No texto “Centralização de Atividades ou Serviços Compartilhados?” pontuamos a importância da diferenciação entre estes dois conceitos e os efeitos que cada um traz para o ambiente/modelos de trabalho e atividades a serem realizadas pelos times. Quando falamos em Serviços Compartilhados, além de etapas de padronização de processos, gestão e controle, são necessárias etapas igualmente importantes de transformações culturais e de mentalidade dos times e gestores. Ainda nesse tópico, há outro processo que muito se fala nas organizações atualmente, a famosa transformação digital. Alguns ainda associam este fenômeno apenas à aplicação direta da tecnologia, deixando de lado um estágio fundamental: a cultura organizacional.
A aplicação “fria” da inovação tecnológica sem um trabalho ligado à cultura da empresa e mentalidade dos times tende a frustrar organizações e investidores. Processos como esses, necessitam de uma equipe que entenda de onde vem a necessidade de mudança, que a abrace e esteja constantemente focada em aprimorá-la.
Em outras palavras, os times precisam entender e praticar inovação e melhoria contínua diariamente; errar deixa de ser algo a ser evitado a todo custo e passa a ser um degrau no processo de evolução, uma fonte de aprendizado e conhecimento. Esse conceito, bastante presente nas metodologias ágeis de startups , é conhecido como “fail fast, learn faster” ou “falhe rápido, aprenda mais rápido”.
Atualmente, os times não são preparados para a grande volatilidade e heterogeneidade das demandas dos clientes e das evoluções do mercado, assim como não são habituados a tomar decisões com base em dados de maneira objetiva. Consequentemente, grande promessa de agilidade e eficiência cai como vítima dos mesmos pontos que deveria solucionar, os processos e burocracias que marcaram as corporações nos anos 90 e 2000.
De acordo com Agnes Rabelo, em texto publicado no site da Rock Content (maior empresa de marketing de conteúdo da América Latina): “Transformação digital é o processo em que empresas usam tecnologias digitais para solucionar problemas tradicionais, como: quedas no desempenho, produtividade, agilidade e eficácia. Essa transformação deve partir de uma mudança estrutural nas organizações.”.
Outro importante pilar comum quando falamos em digitalização e uma estrutura de Serviços Compartilhados são os dados.
A empresa não pode mais se dar ao luxo de tomar decisões com base em projeções antigas e comportamentos previsíveis. Os dados gerados pela empresa e pelo ambiente que ela está inserida são de suma importância para direcionar a tomada de decisão da companhia em todos os níveis. A taxa de geração de dados nunca cresceu tanto como nos últimos anos e tende a manter seu crescimento exponencial indefinidamente.
Sendo assim, é necessário que um trabalho de educação seja realizado em todos os níveis das organizações (começando pela gestão) em prol do “Data Driven Mindset”, ou seja, a habilidade de extrair e analisar dados para potencializar e direcionar a tomada de decisão.
Quando falamos neste nível de uso de dados acabamos, inevitavelmente, entrando no que é chamado de Big Data, ou seja, a geração, estruturação e manipulação de grandes volumes de dados. A estrutura necessária para esta atividade ainda pode ser cara e o conhecimento necessário para operá-la, escasso.
Ferramentas terceirizadas que auxiliem a gestão a capturar seus dados e visualizá-los de maneira mais intuitiva e direcionada para geração de insights de negócio são serviços extremamente úteis e valiosos para o processo. Data analytics acabou se tornando uma das “áreas do momento”, e com razão. A análise de dados permite às empresas entender melhor suas equipes, seus clientes e o mercado alvo com uma profundidade e velocidade nunca antes vista.
Portanto, seguindo este raciocínio, uma das grandes características que deve ser fomentada e valorizada nas corporações é a curiosidade, que pode ser traduzida na contínua capacidade de aprender e de analisar o ambiente por diferentes prismas e metodologias. A construção de uma cultura voltada a encarar a tecnologia como forte aliada é cada vez mais visível e necessária.
Além disso, os times devem ser capazes de interpretar dados e traduzi-los para a realidade da operação, identificando pontos positivos (reforço positivo) e negativos (foco para melhoria contínua) da mesma. Para isso acontecer, as empresas que buscam se manter e acompanhar o processo de digitalização devem oferecer treinamentos e ferramentas adequadas para que os times exerçam sua curiosidade e busquem soluções, análises e insights fora da caixa.
Os dois bens mais preciosos de toda corporação – pessoas e dados – devem trabalhar juntos para que as expressões que tanto vemos no mercado como people analytics, business insight, process automation, process mining entre tantos outros sejam realidade nas corporações e que tragam resultados reais e mensuráveis.